Número 10


A menina vestiu a camisa número 10. Agora ela era forte, invencível. [...] A menina se preparou e fez tudo com a maior facilidade. Roubou a atenção de quem estava naquele lugar e encantou – novamente - o coração de um que de longe a amava.
A menina da camisa sorriu, tinha conseguido mais uma. Foi o fim de jogo. O brilho tinha sido só pra ela. Aliás, o brilho não tinha sido só pra ela... O brilho era ela! O brilho cegava os que ela roubou a atenção. O brilho fazia o coração de quem a amava, doer.
A menina da camisa número 10 tinha o dom de decifrar pensamentos e almas, mas ela nunca conseguiu decifrar quem realmente a amava. Talvez não fosse pra ser. Não dava certo. Opostos se atraem, mas quem disse que eles ficam juntos? Química e Física não decifram o amor. O amor decifra o amor.
Todos se levantaram, aplaudiram. Menos o que amava a menina. [...] Sorriram. O novo amor da menina lhe abraçou e selou seu sorriso com um beijo apaixonado. A lágrima caiu dos olhos de quem ainda amava a menina, mas o sorriso no rosto logo nasceu. A menina olhou, ficou emocionada. Quem a amava levantou as mãos e fez um gesto de tchau, virou as costas e seguiu em frente. A menina continuou a festejar com o corpo, mas a mente estava na pessoa que ela sabia que a amava.
- Minha menina da camisa número 10 está feliz, isso que importa. - Injetou o veneno na veia e viu o mundo se apagar. Com o pouco de força que lhe faltava, cortou o dedo e desenhou um coração na calçada. Fechou os olhos e o último sorriso apareceu no rosto. Morreu sem sua menina para lhe abraçar. Havia deixado um bilhete para sua menina, que dizia:

Peço a chuva que o limpe e que ele se espalhe por aí. Ele vai ficar marcado em todo lugar e todos vão ver que ele é seu. Se for pra nuvens, ele vai aparecer lá. Ele será uma nuvem com formato de coração, ira chover e te molhar. Estarei contigo. Sentirei teu corpo e levarei tuas mágoas para longe. Sempre estarei contigo.
Mesmo que eu não esteja segurando tua mão ou te beijando e abraçando, meu coração será seu. Mesmo que eu não seja teu ar, meu coração será seu. Mesmo que eu não seja tua vida, meu coração sempre será seu.
Mesmo que minha vida acabe e minha alma se corrompa, oh, menina, meu coração sempre será seu


Coisas simples




Seu cheiro em minha roupa, folhas amareladas de outono, um dia de chuva, o vento quando brinca com meus cabelos, um sorriso sincero, palavras ditas pela metade, a calçada repleta de flores na primavera, o sol quando se põe, teu silêncio no telefone, um suspiro de ansiedade... São todas essas coisas simples que me compõem, que me arrancam sorrisos tímidos e me dão vida. Às vezes passam despercebidas sobre o olhar das pessoas apressadas no dia a dia, que mal percebem que o bom de viver é estar atento a todo e qualquer mínimo detalhe dessa incrível aventura. Mas eu não preciso de muito para estar feliz, tudo em excesso acaba se tornando imensamente cansativo pra mim. Porque eu gosto mesmo é das coisas menos complicadas, de resolver sem demora, de não esperar pra depois, de aproveitar cada instante de tudo, de respirar fundo só pra sentir o ar puro de uma tarde de inverno, quando a chuva já lavou todo e qualquer vestígio do passado que me machuca. E é assim que eu vivo, escrevendo ao som de uma bela música tocada ao piano, enquanto sinto a textura do papel roçar em minhas mãos. E é isso que me faz bem.